domingo, 25 de setembro de 2005

Um dia é do caçador, outro....

Ela diz: "Estou cansada de ficar sozinha, esses homens não querem compromisso, nos usam e depois nos descartam. Tem mais: se você é inteligente, articulada e bem-resolvida eles nem te usam... têm medo!". Ele diz: "Eu quero uma mulher que seja minha cúmplice, minha companheira, mas eu quero conquistá-la, e as mulheres hoje não se deixam conquistar: são conquistadoras." Ela e ele são meus amigos. Um não conhece o outro (acho que seriam incompatíveis). São livres, independentes, bonitos, interessantes, sozinhos. Ela não se acerta com ningúem, embora tente. Ele, idem... Notam algo mais de semelhante entre eles? Não? Prestem atenção, releiam as suas falas... eles parecem viver em um passado longínquo! Não parece absurdamente anacrônico o que ela diz. Comecemos com o "Estou cansada de ficar sozinha": quantas vezes você já não esteve cansado(a) de estar acompanhado? Ficar sozinho(a) pode ser divertidíssimo, é só não associar isso à rejeição e fracasso! Depois: "esses homens não querem compromisso". "Esses" quem? Os disponíveis, os canalhas, os inteligentes, os que eu quero (que tal querer homens de outro tipo). E que compromisso: andar de mãos dadas, ir ao supermercado, trocar o pneu do carro, matar as baratas, casar, ser avalista de aluguel... quem quer compromisso? Compromisso é chato, entediante, burocrático. O bom é ser livre, ir e voltar por vontade e desejo. Depois tem o "eles nos usam e nos descartam"...Uau!!! essa eu nunca tinha escutado...que original... Pense bem, amiga, será que não você que os está usando?... tente mudar um pouco a perspectiva... Bem quanto ao "eles têm medo de mulher inteligente e articulada"... bom um homem assim merece mesmo é uma mulherzinha alienada, fútil, bonitinha, vazia, cuja mais brilhante citação seja uma frase de Adriane Galisteu, talvez da Luciana Gimenez... E o discurso dele, então? Não parece de um troglodita, neandertal ou coisa do gênero? Que idéia miúda essa de que a "mulher tem de ser conquistada". Que coisa pré-histórica isso de que o homem tem de ser o caçador... Vai olhar para a mulher e paquerá-la dizendo: Uga Uga!!! Que singelo! Por favor: isso é ranço darwinista de que o homem é fruto da evolução das espécies e tem um lado animal! Alô!!!! A idade da pedra passou, a idade média passou, a idade moderna está passando. As mulheres já podem votar, sabiam? Fazem sexo por prazer (juro!), pagam suas contas (e não apenas suas lingeries...), podem até pagar o drink e o motel, se valer a pena... Tudo bem, ainda têm TPM, menstruam e continuam parindo com dor... mas houve avanços. Reconheçamos. Aí vem o sujeito -bem, é meu amigo, mas.... - diz que quer ser o conquistador? Síndorme de Conam, o Bárbaro? Quando for visitar a conquistada vai fazer xixi nos quatro cantos do apartamento para demarcar território?! Amigos, atualizem-se. Amiga, perceba que estar cansada de ser sozinha pode ser apenas a repetição mecânica de um clichê da sua tia-avó soltira, compromisso a gente tem de ter com a própria felicidade, e que o verbo usar pode mudar da voz passiva para a ativa (usei em vez de fui usada). Amigo, amigo... não precisa mais ir para o mato caçar capivara para o almoço. Passe no supermercado mais próximo e veja como as coisas são práticas. Ah... também não precisa fazer atrito entre galhos para fazer fogo: já tem uma coisa chamada fósforo, outra coisa chamada isqueiro... Não se esqueça: coçar o saco é público é muito feio (sei que é coisa de macho, mas controle-se) . Ah... e principalmente, amigo, pense (prometa que vai tentar): ser conquistado pode ser maravilhoso, permita-se o prazer de servir-se como caça e forneça uma boa refeição!!! Sejam felizes. Se puderem.

domingo, 18 de setembro de 2005

Pagar para ver!

Sabe aquelas finais de jogos em que não é possível ter empate? Pois é, alguns jogos da vida são assim: é ganhar ou perder. Sempre tive medo desse tipo de situação (confesso que, na hora das decisões por pênaltis, não consigo ficar na sala vendo a TV... ). Esse medo de perder me paralisa a vida: faço poucas apostas, raramente blefo, sou a primeira a sair da mesa. Admiro - e muito - aquele tipo de pessoa ousada que tudo arrisca e, se tudo perder, não lastima ou desanima: afinal faz parte do jogo - dizem com a naturalidade dos apostadores compulsivos... Não sei que tipo de situação nos tira dos trilhos (ou, enfim, nos coloca neles...), mas ontem eu paguei para ver! Que medo, que vergonha, que pavor terrível tomou conta de mim quando eu joguei os dados na mesa - ainda mais porque - pasmem! - quem propôs o jogo fui eu! Que ousado espírito tomou conta de mim para que eu fizesse isso? Até agora não sei... Sei que joguei, apostei alto, arrisquei, perdi o controle (meu Deus!), sabendo que não haveria empate: ou eu ganharia ou eu perderia. E sabem o que aconteceu? Eu perdi. E não foi uma derrota qualquer... foi um pouco humilhante, muito desoladora, absolutamente constrangedora, inesquecivelmente dolorida. Mas, apesar de tudo, eu me sinto uma vencedora. Por quê? Porque eu tive coragem de jogar, arriscar, expor-me à vitória ou à derrota, mas expor-me... sair da cozinha e ver os pênaltis na televisão. Poderia ter sido melhor se eu tivesse ganhado... será?... não tenho certeza. Talvez seja uma forma de consolo, não sei, mas acredito que o prazer - para mim, hoje - não está em ganhar... definitivamente não! O prazer que toma conta de minha alma hoje vem do orgulho de ter rolado os dados enfim... e de ver que eu ainda - embora já nem desse conta disso - estou no jogo!!! Que venham outros dados e novos jogadores!

sábado, 17 de setembro de 2005

Do anonimato e outras covardias

As máscaras são um prato cheio para a psicanálise. É impressionante como as pessoas se sentem protegidas quando estão mascaradas: a personalidade se dissipa, os valores morais e éticos se flexibilizam e as verdades se soltam... dê uma máscara a alguém, proteja-o na cômoda situação do anonimato, e verá quem ele realmente é. As máscaras usadas nas comemorações do carnavel têm protegido secularmente indivíduos que jamais se revelariam de cara lavada. No mundo pós -moderno, a comunicação virtual da internet funciona como máscaras na nossa prática social: pelo teclado e pelo monitor, sob a segurança do contato virtual, podemos criar falsas imagens, contar falsas verdades, dizer coisas que seduzem, magoam ou perturbam sem nos preocuparmos em sermos descobertos. A virtualidade da net nos dá a serena garantia do anonimato. É prático, mas não é honesto... cá entre nós, é até covarde dizer aos outros o que eles não merecem ouvir sem lhes dar a chance de contra-argumentar, pois o interlocutor é um ser "anônimo". Aprendemos que é covardia tirar doce de criança, bater em gente menor do que a gente, esquivar-se da responsabilidade de ações deliberadamente praticadas, maltratar quem já está destruído... mas é preciso ver que, dentre as muitas covardias a que estamos expostos - como praticantes ou receptores - o anonimato é, talvez, a mais perversa: ele destrói sob a segura certeza de que não será descoberto, protege-se sob a máscara do irreconhecimento... Amigos, sejamos bravos... assinemos nossas considerações, assumamos nossos posicionamentos! Abaixo a covardia do anonimato!!!

quarta-feira, 7 de setembro de 2005

Amor, afinal...

Em mesa de bar, a conversa não tem rumo certo: muda-se de assunto na mesma velocidade em que se pede mais uma rodada. Política, futebol, o sujeito da mesa ao lado, o preço da cerveja... tudo isso é comentado em menos de 5 minutos. Não entranhei, então, que aparentemente do nada alguém tenha-me feito a pergunta: "Qual a diferença entre amor e paixão?". Antes de dar uma resposta (se é que eu a tinha), reparei bem o perfil do meu interlocutor (na verdade, interlocutora): uma jovem de aproximadamente 20 anos, de bem com a vida, bela, inteligente... bem longe dos padrões ingênuos de certos eternos adolescentes. Naiara é seu nome. Naiara não é ingênua, mas tenho a impressão de que ainda conserva certa tendência aos sonhos... Naiara acredita no amor. E eu desiludi Naiara, dizendo-lhe que o amor só existe, de maneira eterna e incondicional, entre mãe e filho. O resto é paixão, carência, desejo, amizade... Impiedosamente, talvez, tenha-lhe entristecido a alma. Perdoe-me, Naiara! Queria poder manter os seus devaneios românticos. Queria dizer que cada um de nós tem uma alma gêmea e, se formos bonzinhos e dermos sorte, ela aparecerá...Queria dizer que o sentido da vida é amar, que sem amor é impossível ser feliz... Queira dizer que a sensação de desejo que algumas pessoas nos despertam pode ser eterna... Queria dizer que a cumplicidade de andar de mãos dadas pela rua às três da madrugada pode ser perpetuada... Queria dizer que amar só depende de você, amor é via de mão única... Queria dizer que nada é mais confortador do que saber que um outro existe com quem dividir planos, alegrias e frustrações... Queria rir dos que negam o amor, dizendo que eles nunca amaram... Juro, Naiara, que eu preferiria ter dito essas palavras... mas a vida paralisou minha vontade no momento (ou momentos?) em que descobri que, lamentavelmente, isso tudo é uma grande mentira. Perdoe, jovem Naiara.