sábado, 6 de agosto de 2005

Sobre a inveja

Vocês conhecem aquela pessoa que faz o modelo-perfeito-em-tudo-o-que-faz-e-nunca-comete-erros? Eu conheço o tipo...aliás, tipa! A criatura é inteligente, elegante, carismática, bem-resolvida, e (ahhh!) linda de viver. Um dia desses, fui visitá-la meio que de surpresa (essas coisas que em Brasília nunca ninguém faz: "tava passando aqui perto e vim te ver!"). Pois bem, acreditem: a criatura estava arrumada como quem vai ao shopping. Perguntei, com absoluta vergonha de ter ido visitá-la em hora imprópria, se ela iria sair. Ela sorriu, disse que claro que não e me levou ao seu quarto para que eu pudesse ver o que ela estava fazendo... não pensem maldade, muito menos de alguém assim... Bom, ela estava arrumando o guarda-roupa, tinha tirado todas as peças, estava passando as roupas amarrotadas, dobrando direito as camisetas, agrupando por ordem de cor as calcinhas. E ela estava arrumada!!! Perguntei por que ela estava daquele jeito, pronta pra sair. Sabem o que ela me respondeu? "Ah! isso é roupa de ficar em casa!". Como assim? roupa de ficar em casa?!! EU tenho roupa de ficar em casa: camisetas meio puídas, bermudas velhas, chinelo havaiana se eu não resolver ficar descalça, indumentárias inúteis para qualquer outro evento senão ficar em casa! Aquilo era roupa de sair! Ah, meu Deus, tinha descoberto outra virtude nela... agora só faltava eu descobrir que ela acorda com hálito fresco de hortelã e nunca na vida teve flatulência...
Por que mesmo comecei essa história?... ah lembrei: minha filha fez uma redação sobre Admiração e inveja - o que diferencia esses dois sentimentos - e eu achei o tema filosófico demais para uma garota de 13 anos. Penso que não teria muito o que escrever sobre a matéria, pois vejo um limite territorial excessivamente estreito entre as duas palavras. Admiramos quem gostamos e invejamos quem não gostamos, diriam alguns. Mas não acho que seja assim tão simples: gosto da criatura, mas a invejo! Sim, mea culpa, mea culpa, mea culpa! Pequei, Senhor, perdoa-me, caí na fácil armadilha dos que não têm personalidade e padecem desse vil sentimento, também conhecido como pecado capital, chamado inveja! A admiração é para os altruístas, os que são tão perfeitos em tudo o que fazem não faz sentido terem inveja, os iluminados... ou então para os hipócritas, que dizem o que não pensam. Não sou assim, admito, nem iluminada nem hipócrita. Algumas pessoas me causam inveja sim! Só que não preciso, por causa disso, torcer contra elas, recorrer à mandinga, puxar o tapete, fazer intrigas! Posso conviver bem com a vontade de ser também daquele jeito, sem torcer para que o outro não o seja. "Ah, Tereza", alguns tentarão me consolar, "isso é admiração". Não é não gente, é inveja... e é uma merda.