Decidiu fazer um “tour” especial: iria percorrer – todos! – os lugares em que havia estado com ele! As amigas se dividiram: algumas acharam um desperdício, tantos lugares novos a serem desvelados; outras sugeriram masoquismo em grau avançado, que idéia louca era aquela; umas poucas perguntaram se ela iria acompanhada, se era vingança, despacho do passado, coisa do gênero. Sim, Ela respondeu, é coisa do gênero e, embora a palavra despacho não lhe parecesse muito simpática, entendia aquilo como uma espécie de exorcismo do passado. Algo necessário para retomar a vida, ah... estava lendo livros de auto-ajuda demais. Na próxima ida à livraria, compraria um Saramago, não podia esquecer isso...
Começou com os bares. Entupiu-se tanto de tequila que chegou a cogitar os alcoólicos anônimos. Depois vieram os restaurantes. Para compensar os quilos adquiridos, decidiu que o próximo passo seriam as trilhas. Ah, as trilhas! Os dois juntos, a natureza selvagem... começou a achar que até os tatus-bola se compadeciam do seu sofrimento. Enfrentou até uma viagem, contra todos os argumentos de sua conta bancária, para outro estado: aeroportos, filas, quarto solitário de hotel, passeios turísticos com olhos lacrimejantes. Definitivamente, essa coisa de despacho era trabalhosa, onerosa e dolorosa! Enfrentou bravamente, para desespero das amigas- que agora por unanimidade a julgavam desequilibrada -uma noite solitária num motel. Tomou um banho de banheira e duas garrafas de vinho. Seria necessário mais do que isso, mas se lembrou do AA...
Enfim, Ela reviveu o passado para vencê-lo. Não podia ignorá-lo, não podia suportá-lo. Tinha de enfrentá-lo. Achou-se estóica, adulta, curada. Depois do último lugar revisitado, foi para casa com uma sensação de alívio. Podia recomeçar.
Tomou um copo de leite, colocou uma camisola confortável de quem não tem amante e, exaurida do “tour”, dormiu. Sonhou com ele a noite toda. Suas mãos, sua boca, sua voz. Acordou arrasada. Mais do que expurgar seu passado, era preciso – Ela entendeu – despachar o seu presente. E seu futuro tão milimetricamente organizado em torno dele. Mas como reviver o que não foi vivido? Pensou em mãe-de-santo. Definitivamente, estava desequilibrada. Chorou da inutilidade de seus exorcismos... Nem a tequila, nem o vinho conseguiriam salvá-la. A essa altura, nem mesmo Saramago...
domingo, 22 de julho de 2007
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